domingo, 10 de julho de 2011

Vacinação contra a Leishmaniose Canina é uma realidade

A apresentação no passado dia 24 de Maio em Lisboa da nova vacina contra a Leishmaniose Canina constituiu um importante avanço na veterinária, que até ao momento não dispunha de uma vacina segura e eficaz para o combate desta doença endémica que ocorre em Portugal e que é considerada uma doença global, com forte incidência no Mediterrâneo, América do Sul, África e Ásia.
A Leishmaniose é uma doença crónica, debilitante e habitualmente mortal nos cães, cuja transmissão ocorre através de um pequeno insecto vector, semelhante a um mosquito, um flebótomo.
A Leishmaniose, conhecida há mais de 100 anos, é uma zoonose, isto é, pode ser transmissível ao Homem, constituindo hoje um problema de Saúde Pública à escala Mundial. Em Portugal, a ocorrência de casos em humanos é particularmente baixa. O número de casos reportados anualmente à Direcção Geral da Saúde tem-se mantido em cerca de 15 novos casos por ano (www.onleish.org).
Diferentes estudos efectuados em Portugal indicam prevalências de 10 a 20 % desta doença nos cães. Não obstante estar registada a ocorrência da doença em todas as regiões, a região de Trás-os-Montes e Alto Douro é habitualmente referenciada nestes estudos com taxas de prevalência elevadas.
Estudos clínicos realizados na zona de Bragança indicam que a doença também aqui é endémica e todos os anos são registados cães infectados com a Leishmaniose.
Outro dado importante relaciona-se com a susceptibilidade da raça de cães. Os estudos clínicos aqui realizados apontam para uma maior susceptibilidade do Epagneul Breton, do Doberman, do Boxer e do Retriver do Labrador. Por outro lado, os cães de raça indeterminada, não obstante constituírem o maior número de cães observados e cães doentes em termos absolutos, apenas representam uma percentagem de 2% no que toca à susceptibilidade da raça. De referir também que o Cão de Gado Transmontano e o Podengo apresentam uma menor susceptibilidade de raça, o que poderá estar relacionado com o facto de ambas serem raças autóctones e possuírem, por isso, uma resistência imunitária natural à doença.
O tratamento desta doença nem sempre é possível. Nos casos em que é efectuado e em que conduz a melhoria clínica, requer um acompanhamento e monitorização continuada durante a vida do animal. Os Médicos Veterinários dispõem hoje de muita informação sobre esta doença e são os profissionais de saúde mais capacitados para avaliar os contextos clínicos e epidemiológicos inerentes a cada caso clínico.
Pela dificuldade e por vezes impossibilidade do tratamento dos cães infectados, a prevenção deverá estar na primeira linha do combate a esta doença.
Neste capítulo as medidas que evitem a picada do insecto/vector nos cães devem ser sempre as prioritárias, entre as quais se destacam:
- Aplicação de desparasitantes insecticidas tópicos com eficácia comprovada;
- Aplicação de insecticidas ambientais nos canis;
- Recolha dos animais durante a noite para espaços protegidos dos insectos;
- Redução dos locais favoráveis à proliferação de insectos.
Para além destas medidas de profilaxia sanitária, dispõe-se agora de uma nova ferramenta profilática, a vacina, que finalmente, após 100 anos de conhecimento e de muita investigação, vem abrir novas perspectivas na defesa da saúde dos amigos de quatro patas.

Publicado no Jornal Nordeste no dia 5/07/2011